Sem título

“Nós não estamos aqui para falar, nós estamos aqui para fazer história”. Com esta frase, o secretário geral da ONU, Ban Ki Moon, abriu o Climate Change Summit 2014 (ou Cúpula do Clima), realizado em Nova York no último dia 23. O encontro teve como objetivo relançar ações contra o aquecimento global e alinhar discursos para a COP21 (Conferência das Partes), realizada no próximo ano em Paris com a promessa de criar um novo acordo ambiental para substituir o Protocolo de Kyoto. O Mensageiro da Paz e ator Leonardo Di Caprio foi menos sutil. “Vocês [líderes mundiais] podem fazer história ou serem vilipendiados por ela”, advertiu Caprio.

Entretanto, para muitos, esperar até 2015 não é uma opção. Mais de 2000 passeatas foram registradas dentro do que foi chamada “Marcha Popular pelo Clima”, nos dias que antecederam o encontro da ONU. Apenas em Manhattan, mais de 300 mil pessoas participaram da marcha – que contou com a presença do próprio Secretário-Geral e da ministra do meio ambiente da França, Segolène Royal. Segundo os organizadores de Nova York, o objetivo em reunir tantos participantes é fazer com que a temática do clima deixe de ser vista como uma preocupação meramente ambiental e passe a ser vista como um problema de todos e em todos os aspectos: social e ambiental, mas também político e econômico.

O discurso da presidente Dilma Rousseff na Cúpula teve como principal argumento a defesa de que desenvolvimento econômico e luta contra mudanças ambientais podem sim ser compatíveis. A presidente também destacou os princípios da responsabilidade e equidade entre os diversos atores internacionais, ou seja, da igualdade de direitos e deveres. O que ficou implícito no discurso – quem seria, afinal de contas, ator internacional? – pôde ser observado nas manifestações populares dos dias anteriores: a sociedade civil também deve compartilhar desta responsabilidade e das negociações a respeito da temática ambiental. Não apenas na temática das COPs, mas de toda a definição dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) e da Agenda Pós-2015.

É o que a Sociedade Global também acredita: que a governança democrática e o desenvolvimento em suas diversas facetas – humano, organizacional, local – dependem de cada cidadão e não do arraigado hábito de reclamar do governo (muitas vezes nem chegando a reclamar para o governo de fato) e de esperar soluções prontas do Estado. Se vivemos de fato na tal “Aldeia Global” de McLuhan, por que não fazer uso das ferramentas de comunicação e informação que a globalização nos agracia de maneira construtiva, visando melhorar o meio em que vivemos? Resumindo, nas palavras do sociólogo Boaventura Souza Santos: “Há uma globalização alternativa, a globalização de um desenvolvimento democraticamente sustentável, das solidariedades e das cidadanias, de uma prática ecológica que não destrua o planeta”.

Para o diretor executivo da ABONG (Associação Brasileira de Organizações Não Governamentais), Daniel Hazard, vivemos um momento importante para o diálogo intergovernamental, especialmente no Brasil, onde o processo ainda é relativamente recente e em desenvolvimento. “O diálogo do governo com a sociedade civil deve ser estratégico, com acesso a informações, ampliação da participação e criação de um processo realmente deliberativo no processo decisório”. Em época de eleições, em uma realidade não muito distante das manifestações de junho e, especialmente, em um cenário internacional no qual o Brasil ganha cada vez mais visibilidade e importância, a participação civil não deve se restringir a virais e memes. Nossa chance de fazer história, parafraseando Moon, é agora.

Saiba mais sobre a participação da Sociedade civil na discussão dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável!

Fontes:

http://www.bbc.com/news/science-environment-29301969

http://www.pulsamerica.co.uk/2014/09/24/latin-america-presidents-un-climate-summit/

http://zh.clicrbs.com.br/rs/noticia/2014/09/o-que-esperar-da-cupula-do-clima-4604848.html

http://www.abong.org.br/noticias.php?id=7636