Não é novidade que as práticas de ensino e aprendizagem estão sofrendo radicalmente com a emergência de novos modelos, mais atrativos e eficazes à realidade atual. Se a escola matou nossa criatividade, é hora de recuperá-la para nos adaptar, acompanhar a sociedade em rede e criar soluções para os desafios complexos e incertos da atualidade.

 

Nunca se buscou tanto cursos de Design Thinking para pensar nessas soluções inovadoras, para sobreviver e protagonizar as mudanças sistêmicas de nosso tempo, afinal estamos vivendo um período de muitas transições de paradigmas e questionamentos das antigas formas de fazer economia, sociedade e vida! Como disse o Gustavo Tanaka, há algo grandioso acontecendo no mundo… você reparou?

 

Ao mesmo tempo em que queremos transformar tanta coisa no mundo lá fora, temos muito o que transformar aqui dentro, surge logo outra emergência: a da transição de consciência, dos despertares individuais que passam necessariamente pela autorreflexão e pelo resgate do ser humano como ser integral – corpo, mente, emoções, espírito! Quantos de nós não estamos nessa busca? Entra então o Coaching para refletir nosso papel nisso tudo, Mindfullness – ou meditação – para nos manter no eixo e tantas outras buscas – das pessoais às transpessoais – de autoconhecimento.

 

Tudo isso coexistindo com as relações nossas de cada dia, relações entre colegas de trabalho, entre os conflitos familiares, entre você e o porteiro e entre os diversos grupos, coletivos, redes, relação com a cidade, quanto mais relação mais complexo fica! Buscamos então novas formas de nos relacionar, conversar, COLABORAR se torna uma palavra chave, diálogos tomam nossas agendas e sentimos tanto a necessidade de nos conectar como precisamos urgentemente aprender a tratar nossos conflitos!

 

E aí, como dar conta de tanta transformação? Quais são as habilidades e capacidades que precisamos para sustentar tantas perspectivas ao mesmo tempo e ainda nos manter em equilíbrio? Quais modelos de aprendizagem melhor podem apoiar esse contexto de transições constantes?

 

Nesse artigo eu conto um pouco, de uma perspectiva pessoal, como está sendo trilhar o caminho de descoberta do que é uma Aprendizagem Transformadora, termo que encontrei na busca do que melhor expressasse minha prática nos últimos anos para “enquadrar” isso numa proposta de Mestrado. No fim, o mestrado não “enquadrou” e esse termo se revelou muito mais uma afirmação da prática e intenção de vida.

 

O que eu quero compartilhar nesse texto é como isso está se transformando numa metodologia de Ambientes de Aprendizagem Transformadora, bastante prototipada na prática e regida pela pergunta: O que torna um ambiente de aprendizagem transformador, para indivíduos, grupos e sistemas?

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O que descobri foi que a Aprendizagem Transformadora relacionada em diversas teorias e metodologias com esse e outros nomes, em suma cria ambientes que permitem as pessoas, grupos e coletivos se desenvolverem do EGO ao ECO. Ou seja, de uma perspectiva EGOcêntrica para uma ECOcêntrica, emprestando os termos da Teoria U, em uma abordagem INTEGRAL, considerando as diversas perspectivas da Teoria Integral. Esse é o caminho evolutivo que estamos consciente ou inconscientemente sendo levados a buscar. E essa transformação “multinível” passa por três esferas:

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  1. Transformação de Indivíduos

 

Sim, porque não há como transformar algo fora que não se transforme dentro.

Quando assumimos que TODOS fazem parte dos desafios e soluções, isso coloca cada um num centro de influência. Mesmo que a demanda seja transformar o sistema de educação, a política, o sistema de saúde, a cultura do machismo, etc; não se chegará a lugar algum sem passar pela reflexão crítica dos modelos mentais vigentes nas pessoas que compõe esse sistema. Por isso é preciso dar espaço – ambiente – adequado para que a transformação individual se desenrole de forma integral e autêntica, o que pressupõe liberdade e autonomia, outro ponto chave como muitos amigos pedagogos já nos diziam há muito tempo!

 

Continua sendo mais teoria do que prática, nas escolas, nas universidades e até nos ambientes de desenvolvimento organizacional, encarar de fato a liberdade e a autonomia do outro. Assim como continua sendo difícil até para indivíduos autônomos e atuantes centrar-se em si mesmos e lidar com suas sombras, silenciar a mente e rever seus próprios modelos mentais. E é isso que o ambiente de aprendizagem transformadora pode proporcionar!

 

Como princípios fundamentais, além da autonomia e da reflexão crítica, é fundamental tratar esse indivíduo em processo de desenvolvimento como ser humano integral, ou seja, estimular não só processos mentais, como os seus aspectos físicos, emocionais e até espirituais!

 

Algumas práticas relacionadas:

  • Coaching;
  • Mindfullness;
  • Diários reflexivos;
  • Mapeamento de Valores e Níveis de Consciência;
  • Práticas de Vida Integral (corpo-mente-espírito);
  • E o que mais cada um quiser para si, vale mapa astral, uma alimentação consciente ou até a leitura de um clássico best-seller.

 

 

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  1. Transformação das Relações

 

Quantos projetos e belas ideias capazes de “mudar o mundo” você conhece que não foram pra frente por conflitos e divergências entre as pessoas?

 

Pois é, não são as pessoas que estragam os projetos, mas muitas vezes os projetos que não preveem as relações humanas! E como não dá para ficar no alto da montanha até sair de lá um ser humano pleno e iluminado (ou até dá, mas nenhum de nós está fazendo isso 100% do tempo, certo?), é nas relações diárias e nos desafios reais que a gente experimenta nossa capacidade de praticar aquilo que queremos como indivíduos. E são nas relações de colaboração, de conversas com os chamados stakeholders, ou seja, todos os públicos envolvidos, que engajamos ou não as pessoas nas soluções. Que convidamos o outro para somar, em vez de tentar “vender uma ideia” que seja aplicada conforme o planejamento.

 

Algumas práticas relacionadas:

  • Círculos de diálogos;
  • Círculos de Coaching;
  • Comunicação Não Violenta;
  • Métodos da Arte de Anfitriar Conversas Significativas;
  • Práticas entre Pares;
  • Mentoring;
  • Sessões de cocriação;
  • Times Colaborativos
  • Gestão Baseada em Valores;
  • Design Thinking e Human Centered Design;
  • E tantos outros métodos que você deve conhecer…

 

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  1. Transformação de Sistemas

 

Enfim, se as pessoas se transformaram e estão interagindo de novas formas, o que falta para isso alcançar níveis sistêmicos?

 

Mais uma vez uma questão de ambiente propício, capaz de abranger as duas esferas anteriores com indivíduos e grupos chaves para os sistemas, incluindo a maior quantidade de pessoas – a crowd, os cidadãos e consumidores, a contribuir. Explico: a exemplo do Uber, Air BnB, de escolas alternativas e de tantos outros exemplos de inovação, mostrar que as pessoas estão dispostas a agir com confiança e realizar outros modelos de troca é um passo significativo para que essas novas práticas se insiram na cultura, mas nem sempre é o suficiente para que sejam aceitas e disseminadas no sistema vigente, não é mesmo? Isso não só leva tempo e transformação gradual da cultura, como muitas vezes esbarra em tomadores de decisão.

 

Por um lado voltamos à primeira esfera, em que é necessário a transformação de indivíduos, o desenvolvimento de consciência e revisão de modelos mentais dessas pessoas (nossos líderes, governantes, servidores e colaboradores) o que pode soar um pouco utópico para alguns, mas ainda sim necessário. Por outro lado, talvez soe um caminho mais inteligente (não exclusivo), que o poder passe cada vez mais de poucos para muitos, dos especialistas para a crowd, como vem fazendo a revolução digital, onde o poder das pessoas se manifesta e acaba influenciando uma revisão de cultura.

 

Isso passa também por teorias de sistêmicas e campos metafísicos, algumas que defendem que quando um determinado percentual de pessoas atinge uma nova consciência existe ali um ponto de contágio para que essa consciência se distribua por todo o sistema. De forma bem objetiva, isso pode ser estimulado ainda mais por encontros, diálogos e oportunidades de colaboração entre todas as partes que compõem um determinado contexto.

 

Os métodos mais abrangentes são encontrados em:

 

  • Práticas de imersão e descoberta;
  • Laboratórios de Inovação Social;
  • Processos de Inovação Aberta;
  • Espaços de Participação Social;
  • Ferramentas de Transformação Cultural;
  • Abordagens sistêmicas e da complexidade;
  • Ferramentas da Teoria U, do Human Centered Design;
  • Todos esses mapeados e contemplados na Metodologia de Impacto Sistêmico que criamos na Sociedade Global.

 

 

Em resumo, descobri que um ambiente de aprendizagem transformadora:

  • é aberto, de confiança e autenticidade
  • centrado no ser humano integral
  • move indivíduos e coletivos do EGO ao ECO
  • estimula a afetividade
  • promove autonomia e reflexão crítica
  • provoca novas formas de convivência e diálogo
  • novas formas de colaboração
  • busca soluções para desafios reais
  • permite a vulnerabilidade e o erro
  • estimula a experimentação
  • valoriza o processo e entende que este é o resultado mais importante!

 

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Essas e outras práticas estão contempladas no Programa JPD – Jovens Profissionais do Desenvolvimento – que foi a grande cancha de experimentação nos últimos quatro anos para que chegássemos nessa metodologia como está sendo concebida hoje. Agora, na quinta edição do programa, essa metodologia virá de forma mais explícita para apoiar pessoas que sintam-se engajadas nessa busca que é pessoal – por uma reconexão de si e um novo sentido de trabalho, mas também é coletiva em pequenos grupos e grandes coletivos na cidade. Criando o ambiente para que todos juntos cocriem o futuro que queremos viver, fazendo a transição para os novos modelos.

Por isso, o programa conta com práticas como as que citei: individuais de Coaching, Mindfullness e muita reflexão e conexão individual; práticas de grupo com a Arte de Anfitriar Conversas Significativas e métodos de trabalho colaborativo que levam os times a outros níveis de relação; e com métodos como o HCD – Human Centered Design (O Design Thinking da Inovação Social) e a metodologia de Impacto Sistêmico da Sociedade Global, para criação de projetos de impacto na cidade. As três esferas coexistindo e dando suporte ao caminho de cada um, num processo de transformação onde, apesar da trilha sugerida e de encontros vivenciais programados, cada um se aprofunda ou se expande de forma autônoma a autoguiada.

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Convido quem se sente identificado a conhecer o JPD, que acontece de 02 de Abril a 23 de Julho. As inscrições estão abertas somente até o dia 25 de março. Confira: http://jpd.sociedadeglobal.org.br

 

Amanda Malucelli – Anfitriã de Aprendizagens Transformadoras na Sociedade Global.