Já imaginou uma situação na qual desenvolvedores, designers e outros profissionais trabalham para tornar serviços públicos mais simples, fáceis e acessíveis? Impossível? Mas isso já é uma realidade e tem nome: começou com o Code for America e hoje acontece no mundo todo em mais de 300 brigadas. O Code for America nasceu como uma rede de pessoas que aliam o melhor da tecnologia e do design para melhorar serviços prestados pelo governo. Isso só é possível com a tecnologia que dominamos nos dias atuais. O que eles estão fazendo? Estão construindo aplicativos para serviços do governo, que são simples, efetivos e fáceis de usar. E o melhor, são abertos para quem quiser. Ou seja, se um serviço/aplicativo criado por eles para um cidade for interessante para outra cidade, basta “pegar” o código, adaptar no que for necessário e implantar.

E o que significa “para a população”? Significa que os serviços/aplicativos funcionam na escala da cidade, sendo utilizados por qualquer pessoa que queira participar. Os serviços/aplicativos acabam por criar comunidades (redes de usuários do serviço) prósperas e seguras. Estas comunidades realizam um serviço que a administração pública não consegue oferece e de uma forma mais ágil.

O Code for America foi criado por Jennifer Pahlka, uma desenvolvedora e ativista. Todos os anos eles selecionam pessoas – desenvolvedores, designers, etc, e as colocam para trabalhar para o governo de algumas cidades. Um serviço criado por eles foi o “Adote um Hidrante” em que você pode adotar um hidrante próximo da sua casa, e também batizá-lo – o primeiro a ser adotado foi o Al, em Boston. Ao adotá-lo, seu “dono” concorda em escavá-lo quando a neve encobri-lo. Para que isso? Por que eles observaram, enquanto trabalhavam para a prefeitura de Boston, que as pessoas tiravam a neve da frente de suas casas, mas deixavam o hidrante enterrado. E quando os bombeiros precisavam de um deles, demoravam para encontrá-lo. Mas se você não escavá-lo alguém pode “roubar” o seu hidrante – o aplicativo funciona como um jogo.

O “Adote um Hidrante” é um aplicativo bem simples, que consegue outra façanha dos tempos atuais de internet, que é se tornar um viral. Os códigos são abertos. Ou seja, se um serviço/aplicativo criado para um cidade for interessante para outra cidade, basta “pegar” o código, adaptar no que for necessário e implantar. O aplicativo “Adote um hidrante” já foi adaptado para diversas cidades, incluindo Honolulu, onde foi adaptado para adotar sirenes de tsunami. Pessoas estavam roubando as baterias destas sirenes. Seattle está usando o aplicativo para limpar ralos entupidos depois das tempestades, e Chicago para remover neve das calçadas. Uma das conclusões do Code for America é que esses aplicativos nos permitem usar nossas mãos para melhorar nossas comunidades. Nós não somos apenas consumidores, somos cidadãos. Cidadãos que juntos podem também fazer algo juntos. Não somos apenas uma multidão de vozes, mas também seremos uma multidão de mãos.

O Code for America provou-se um modelo tão eficiente que suas brigadas se espalharam pelo mundo todo, criando uma rede de colaboração com infinitas possibilidades. Em Curitiba, instalou-se tanto o Code for Curitiba, quanto o Code for Brasil, ou Open Brazil, que semeia a inovação em brigadas ao redor do país (já são 5  formadas: Curitiba, Ponta Grossa, Florianópolis, São Paulo e Brasília. Em Joinville, também há um grupo em processo de formação).

Como escrito em artigo da Gazeta do Povo: “Não é exagero dizer que o Code for Curitiba elevou o hacker-ativismo a um novo patamar no Paraná. Até o momento de sua criação, as reuniões para desenvolvimento de aplicativos cívicos eram esporádicas. A estruturação do grupo a partir de outubro de 2014 mudou o cenário e está permitindo criar uma cultura de colaboração entre sociedade e poder público.

O Code tem realizado parcerias com a prefeitura de Curitiba, que fornece dados públicos para o grupo desenvolver seus aplicativos cívicos. Essa colaboração rendeu, inclusive, o Prêmio CONIP à Secretaria de Informação e Tecnologia da prefeitura, pela articulação de soluções colaborativas para cidades inteligentes.”

Alguns dos projetos de destaque incluem o Politikei, uma ferramenta para ajudar cidadãos a se informarem sobre os posicionamentos de seus vereadores e comparar com os seus própios posicionamentos. O aplicativo Nota Solidária, que se propõe a ajudar ONG’s a se beneficiarem de recursos provenientes de notas fiscais (ainda em fase de desenvolvimento) de maneira àgil. O We are all smart, grupo que realiza workshops que unem hardware, software e permacultura para crianças na Cidade Industrial, com passagem também em Guaraqueçaba. A plataforma Peace Labs, para co-criação de projetos que fomentam sociedades mais justas.

Além de ser um local onde qualquer cidadão pode trazer sua idéia e organizar-se para a desenvolver, o Code for Curitiba é também uma plataforma para debates, networking e encontro entre agentes do governo e cidadãos engajados, o que não é pouco. Todos os projetos são desenvolvidos em código aberto, o que possibilita a colaboração com desenvolvedores em qualquer lugar do mundo. Um exemplo disso é o projeto Criatividades, que mapeia lugares públicos de Curitiba onde pessoas podem realizar atividades e marcar encontros. Parte do código para este projeto foi desenvolvido no Code for Pakistan, e possibilitou a colaboração entre as duas brigadas.

Iniciativas como esta são sinais de um novo modelo de gestão pública, onde cidadãos utilizam-se da tecnologia para atuar sobre as questões que mais lhe concernem, diminuindo assim a dependência do governo e empoderando a iniciativa individual.

*Artigo escrito por Paula Berman e Matheus Mariotto, membros do Code for Curitiba.

Links:

http://www.gazetadopovo.com.br/vida-publica/cresce-a-onda-dos-hackers-que-melhoram-o-servico-publico-bpwvsa7ev6kl00597jvasj75p

http://www.gazetadopovo.com.br/vida-publica/hackers-do-bem-desembaracam-dados-publicos-inacessiveis-a-populacao-3bp6p0qzw04eme47kg7jhdtf2

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