Para uma semente nascer é necessário um ambiente favorável para o seu crescimento.
Pois bem, para as ONGs não é diferente! Se enfrentamos tantos desafios ainda, sejam eles internos ou externos, é porque não criamos ou temos um ambiente favorável para o nosso desenvolvimento profissional e institucional. Isso também sugere o motivo de fazemos cursos, por exemplo, sobre gestão de projetos e captação de recursos ano após ano e isso ainda continua sendo um problema persistente.
É a mesma visão da atividade assistencialista, ou seja, se só oferecermos cursos de gestão de projetos com metodologias, não vamos desenvolver as capacidades das ONGs. Vamos precisar antes de bons gestores de projetos, depois, uma estrutura de processos eficiente de gestão da organização, abordagens mais complexas e eficazes para a realidade atual, sistemas de geração de renda ou captação de recursos, apoio e acompanhamento para a melhoria dos projetos que já estão em implementação e assim por diante.
Mas, principalmente, precisamos de uma cultura de transformação da sociedade, um alinhamento e sinergia entre os atores, a compreensão da importância do papel das ONGs e do terceiro setor, espaços de diálogo sobre suas práticas e sugestões para as questões públicas, organizações representativas que atuem na defesa de seus interesses até a elaboração de novas legislações, políticas ou programas de apoio e incentivo. Ficou fácil, né? Pois é, mas é esse o caminho de atuar sistemicamente no longo prazo e ter efetividade pensando o terceiro setor como um todo, ao invés de propor soluções fragmentadas, de curto prazo, que só trabalham nas consequências.
Para quem não sabe fazer bons projetos, a solução é fazer um curso de gestão de projetos. Isso resolve, de fato?
O ambiente favorável contempla todo um sistema de valores, costumes, conjunto de instituições, de leis, regras, incentivos e governança de uma dada sociedade que favoreçam o desenvolvimento das organizações e seus trabalhos, e não dificultem ou criem obstáculos para o seu pleno funcionamento. A visão dos ecossistemas empreendedores também nos da caminhos para o desenvolvimento do setor, isso significa olhar para todo um sistema de apoio de um empreendimento que contempla uma gama de demandas necessárias para se criar um ecossistema “competitivo”. No nosso caso, um ecossistema colaborativo.
Podemos acreditar que nosso sistema está escasso de recursos ou podemos começar a acessar nosso capital social e o poder da colaboração iluminando os caminhos de uma rede distribuída. Assim, podemos criar valor compartilhado a partir da colaboração entre pares, seja na criação de novos serviços e soluções, seja no compartilhamento de práticas, experiências ou transferência de conhecimentos. Trata-se de assumirmos nosso papel de advogados ou ativistas da nossa própria causa.
Um passo importante que muitos países tem adotado é a criação de instituições informais e independentes como plataformas e redes de ONGs. São como associações de ONGs que trabalham no fortalecimento mútuo, na representação do setor em instâncias políticas e na articulação de campanhas conjuntas para grandes objetivos de desenvolvimento. Em grande parte são plataformas nacionais, mas porque não começarmos a mobilizar plataformas regionais e locais para estreitar nossas colaborações pela nossa causa comum: o nosso setor!
Fica a provocação!
http://www.youtube.com/watch?v=Z-FFcQfxpKA
Por Diego Baptista
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Texto especialmente elaborado para coluna do site Nossa Causa – Agência de Transformação Social0 de Amanda Riesemberg Ferreira.
O Diego Baptista é Empreendedor social, fundador da organização Sociedade Global e sócio Diretor da NOZ – Desenvolvimento e Cocriação em Sustentabilidade. Possui graduação em Relações Internacionais pela UNICURITIBA, especialização em Estratégia e Sustentabilidade Empresarial pela UINFAE e mestrado em Gestão do Desenvolvimento pelo Centro de Formação Internacional da OIT. Foi professor de Relações Internacionais na Unibrasil e Grupo Uninter. Participante da Rede Internacional da Carta da Terra e do Movimento Nós Podemos Paraná pelos ODMs, atuou na coordenação do Comitê Paranaense da RIO+20 pelo Fórum Permanente da Agenda 21 no Paraná. Ministra palestras e workshops em temas relacionados à juventude, educação, trabalho, liderança, empreendedorismo, sustentabilidade e terceiro setor.