Há muito se fala em profissionalização no Terceiro Setor, principalmente por essas organizações serem formadas por pessoas extraordinárias com um propósito maior, uma causa social. São caracterizados por indivíduos altruístas, solidários e carismáticos que desafiaram sistemas e romperam barreiras para ver seus sonhos coletivos realizados e a busca incessante para melhoria da qualidade de vida e da igualdade social. Por serem tão apaixonados por suas missões, aprenderam a fazer na prática, foram verdadeiros empreendedores do campo social, superando desafios mais complexos do que o próprio empreendedorismo tradicional de mercado.
Essas questões podem ser apontadas por algumas das razões da aparente não utilização das competências técnicas e gerenciais em suas atividades, mas a isso incluo outros argumentos: a formação de um campo profissional do desenvolvimento. Esse campo profissional do desenvolvimento primeiramente não é um campo exclusivo do terceiro setor. Surge de fato nos chamados “development practitioners” como profissionais de carreira que trabalham em agências da ONU, agências internacionais de desenvolvimento ou ONGs internacionais que fomentam principalmente o trabalho de cooperação internacional para o desenvolvimento entre países desenvolvidos, em desenvolvimento e subdesenvolvidos, para usar termos, embora controversos, conhecidos.
Nessa comunidade internacional o debate sobre a efetividade do desenvolvimento tem sido cada vez mais profundo, o que representa refletir sobre a prática desses profissionais, ou seja, quais temas abordam, quais estratégias utilizam, quais são as principais metodologias e ferramentas adequadas, quais conjuntos de capacidades são necessárias desenvolver, quais valores acreditam e praticam e assim por diante. Formam-se em distintos temas do desenvolvimento as chamadas comunidades de aprendizagem e prática, ambientes virtuais e reais de compartilhamento de conhecimentos entre organizações e profissionais para cada vez mais aprimorarem suas práticas.
Um campo de profissionais se consolida na área do desenvolvimento, e que extrapola o terceiro setor ou os practitioners do desenvolvimento internacional.
A mesma expertise se difunde entre os gestores públicos buscando cada vez mais princípios de efetividade do desenvolvimento como o planejamento participativo e a gestão por resultados, entre os profissionais da sustentabilidade que assumem as ações de responsabilidade social e na condução de empresas sustentáveis traduzindo princípios internacionais em ferramentas de gestão da sustentabilidade, uma nova geração de empreendedores e negócios sociais que aprimoram técnicas de impacto social e replicabilidade.
Vivenciamos hoje a possibilidade de formação de uma nova geração de profissionais que irão conduzir a consolidação de um mercado de trabalho com posições nos setores públicos, privados ou sociais, internacionais ou nacionais, que não só promovem a satisfação pessoal e a realização profissional, mas acima de tudo a contribuição intencional e efetiva para o desenvolvimento da sociedade.
O Relatório do Banco Mundial (2013) constata que os empregos com maiores benefícios para o desenvolvimento são “aqueles que fazem as cidades funcionarem melhor, conectam a economia aos mercados globais, protegem o meio ambiente, promovem a confiança e o comprometimento cívico ou reduzem a pobreza”.
“O potencial de emprego que surge a partir da transição em direção a economias mais verdes não pode ser explorado se não forem desenvolvidas novas competências profissionais relacionadas com os empregos verdes” (OIT).
A esfera do desenvolvimento humano e organizacional agora abarca o desenvolvimento social e sustentável. Organizações como o Instituto Fonte promovem essa descoberta da profissão desenvolvimento, a exemplo do PROFIDES e dos Encontros de Práticas de Desenvolvimento. São iniciativas que ampliam as pontuais e fragmentadas abordagens de profissionalização do terceiro setor, da gestão pública ou da sustentabilidade empresarial, e aprofundam a dinâmica de desenvolvimento pessoal e profissional em todas as suas dimensões e níveis, para além das ferramentas e técnicas de gestão, abordagens mais sustentadoras de qualquer processo de desenvolvimento.
Ser profissional do desenvolvimento em desenvolvimento é um consenso.
Na mesma linha, o Programa Jovens Profissionais do Desenvolvimento da Sociedade Global que está em sua 3ª edição com suas inscrições abertas, busca impulsionar a formação desse campo, proporcionando uma jornada de 7 meses de desenvolvimento de competências humanas, técnicas e valores universais necessários para a profissionalização em três linhas: a gestão e desenvolvimento organizacional, o desenvolvimento local e a governança democrática. São pilares de atuação dos profissionais, que independente do setor ou organização onde atuam, terão que ter a maestria necessária para alcançarem resultados efetivos.
Assim como no futuro, o desenvolvimento sustentável ou o empreendedorismo social não precisarão mais dos seus adjetivos, pois serão sustentável e social em sua essência, todos os profissionais, serão profissionais do desenvolvimento!
Texto especialmente elaborado para coluna do site Nossa Causa – Agência de Transformação Social
Por Diego Baptista
Fundador e Secretário Geral da Sociedade Global
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