Inovação aberta 1.0: O que é e como funciona?
A Inovação Aberta se trata de um novo modelo, que vem sendo adotado por organizações, indústrias e governos na elaboração de seus principais processos e em todas as etapas cujas melhorias podem aumentar o valor agregado de seus produtos. Ao lançar a Inovação Aberta (Open Innovation), como modelo de inovação, as organizações passam a fazer uso não apenas de ideias concebidas internamente, mas também de ideias externas. Agora, existe espaço para redes de especialistas, outras organizações e usuários principais na co-criação de suas soluções.
Na sociedade do conhecimento para a sociedade em rede, o foco é deslocado da posse dos conhecimentos, para ser voltado à ampliação de ideias, de modo que, testá-las e adequá-las em tempo hábil parece surtir um impacto bem mais positivo no que diz respeito à potencialização das soluções.
Muitas empresas e governos estão utilizando dessa estratégia para o desenvolvimento de soluções, sejam na forma de plataformas de inovação aberta com lista de desafios envolvendo corporações e startups, seja em laboratórios de pesquisa e desenvolvimento envolvendo pesquisadores e corporações, seja na melhoria do serviço público envolvendo cidadãos no desenho das soluções.
Identificamos algumas modalidades mais comuns nos projetos de inovação aberta que temos visto que não se restringem a:
- Demandas feitas por empresas para acadêmicos e pesquisadores;
- Desafios colocados por grandes corporações para startups;
- Abertura de governos para a criação de soluções com cidadãos;
- Negócios sociais fomentando valor compartilhado com grandes empresas.
A inovação aberta pode ser vista também em vários tipos de eventos que convidam as pessoas a vivenciarem formas abertas de criação de soluções e negócios. Os mais comuns são os hackathons, os jams, startup weekends, labs e challenges utilizados como estratégias de replicação por vezes globais, regionais e nacionais simultâneas.
Ainda que a forma como a inovação aberta tem sido utilizada pareça disruptiva, de uma certa forma permanece restrita aos benefícios do ator que convoca um processo desse. Ou seja a demanda vem de dentro para fora gerando valor na otimização de recursos, tempo e conhecimento para o desenvolvimento de soluções próprias e pouco se percebe de benefícios direcionados para todo o ecossistemas e a sociedade. Já os eventos acabam por ser pontuais e gerar soluções fragmentadas, não adotam processos intencionais antes ou depois, apresentando várias lacunas de dados, validação e consistência de times.
Inovação aberta 2.0
O conceito e a prática da Inovação Aberta estão constantemente em evolução e se movendo da forma linear e bilateral para o pensamento da inovação em rede, multi-colaborativa e em ecossistemas. Isso significa que uma inovação específica não pode mais ser vista como um resultado pré-definido e isolado, mas sim como resultado de um complexo processo de co-criação envolvendo o conhecimento que flui por meio de todo uma rede interdependente de atores, pessoas e espaços.
A União Europeia, no estudo intitulado Open innovation, open science, open to the world, aponta que estimular a abertura do conhecimento é o caminho para melhor aproveitamento dos recursos públicos investidos em ciência e inovação em benefício do bem comum.
A Inovação Aberta 2.0, é um novo paradigma baseado em um modelo de hélice quádrupla onde o governo, a indústria, a academia e a sociedade trabalham juntos para co-criar o futuro e impulsionar mudanças estruturais muito além do escopo do que qualquer organização ou pessoa poderia fazer sozinha. Este modelo engloba também modelos de inovação orientados para o usuário para aproveitar ao máximo a produção cruzada de ideias, levando à experimentação e prototipagem para as cidades.
O conceito se diferencia da inovação aberta tradicional e inclui uma série de princípios que podem apoiar atores da cidade, empreendedores e formuladores de políticas na transição para este novo paradigma. Martin Curley, no artigo Twelve principles for open innovation 2.0, faz a comparação entre os tipos de inovação aberta e propõem uma série de práticas que podem orientar o desenho de projetos de inovação aberta 2.0:
- Dependência Independência Interdependência
- Subcontratação Licenciamento cruzado Fertilização cruzada
- Sozinho Bilateral Ecossistema
- Linear Linear, vazando Mash-up não linear
- Sub-contratos lineares Bilateral 3 ou 4 hélices
- Planejamento Validação, pilotos Experimentação
- Controle Gestão Orquestramento
- Jogo ganha-perde Jogo ganha-ganha Ganha mais – ganha mais
- Pensamento de caixa Sai da caixa Sem caixas!
- Entidade única Disciplina única Interdisciplinaridade
- Cadeia de valor Rede de valor Constelação de valor
Este formato apresenta grandes contribuições para compreendermos a perspectiva mais ampla da inovação aberta, no entanto ainda percebemos o processo focado no desenvolvimento de tecnologias, produtos, serviços e negócios tendo o envolvimento do cidadão enquanto usuário cliente.
O que podemos entender aqui é que tudo isso é um processo de inovação também, que a partir dessas experimentações possamos evoluir para novas práticas. E se esse modelo fosse utilizado para que os atores do ecossistema trabalhassem juntos desenvolvendo soluções de valor compartilhado para todos e sobretudo para as redes que se formam, o próprio ecossistema e a melhoria da qualidade de vida nas cidades como forma de aumentar o engajamento cívico de todo a população?
Inovação aberta 3.0 para cidades, qual modelo propomos?
É neste tipo de inovação que nós da Sociedade Global acreditamos: inovação em rede para a cidade e com o engajamento da sociedade. Estamos desenvolvendo uma plataforma para testarmos alguns princípios de hipóteses deste modelo.
Princípios experimentais para gerar processos de inovação ecossistêmica:
- Direcionar múltiplas dimensões das cidades inteligentes, sustentáveis e democráticas equilibrando meio ambiente, economia, sociedade, tecnologia e governança;
- Inclusão de atores da sociedade, governo, empresas e academia em contribuições complementares em igualdade de responsabilidades;
- Mobilizamos inovadores criativos, empreendedores sociais, artistas, ativistas, hackers, líderes comunitários e uma série de outros que não necessariamente se reconhecem como um setor específico, mas podem ser justamente a mola propulsoras de demais hélices;
- Focamos em demandas de comunidades, espaços e populações mais vulneráveis como principais beneficiários e cocriadores;
- Cruzamos dados com imersão na realidade, buscando a consulta e envolvimento da população na descoberta dos desafios e cocriação de soluções para os desafios da cidade;
- Adotamos um portfólio de soluções complementares que tenham potencial de transformar o sistema e não só gerar um ou outra inovação específica.
O que isso significa em um contexto mais amplo? Entendermos que estamos vivendo uma nova geração de smart cities e a cidade começa a ser vista como uma plataforma, onde aumentar o engajamento cívico é parte central para a governança e desenvolvimento das cidades. Quer saber mais? Esses serão os próximos temas dos nossos artigos por aqui!