Por Claudia Santos
Muitas pessoas entendem sustentabilidade apenas como um termo que designa os impactos das questões ambientais sobre os negócios como, por exemplo, a diminuição das poluições e emissões de gases nocivos pelas empresas. Mas se pensarmos na sustentabilidade como um modo de vida, o seu significado torna-se muito mais amplo e abrange outras questões, como mudanças de comportamentos dos cidadãos e gestores/as nas cidades e novos planos de ação para uma melhor qualidade de vida da humanidade.
Vivemos em uma realidade que o conceito de sustentabilidade está cada vez mais presente e urgente nas conferências nacionais e internacionais face aos diversos problemas que estamos enfrentando globalmente, como mudanças climáticas, poluições de grandes centros urbanos, desigualdade, pobreza, entre tantos outros. Sendo assim, surge a seguinte indagação: como a sustentabilidade urbana pode se transformar em um elo de integração entre os diversos atores da sociedade para o alcance de um objetivo em comum, isto é, a melhoria das condições de vida e a preservação do meio ambiente? Isso é algo que discutiremos a seguir!
O que significa sustentabilidade e como isso se conecta com o meio urbano?
O termo sustentabilidade foi construído no ano de 1984, a partir da Comissão Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento – cuja temática era “Uma agenda global para a mudança” – que resultou no Relatório Brundland (1987) e que definiu Desenvolvimento Sustentável como aquele que é capaz de atender as necessidades das gerações atuais sem comprometer a capacidade das gerações futuras de satisfazerem as suas próprias necessidades.
O modelo de desenvolvimento sustentável tem como objetivo reverter os danos à natureza gerados pelos seres humanos ao longo dos anos e a partir disto, conduzir a existência humana e dos demais seres vivos de uma maneira mais ecológica, que contraponha a lógica de maximização dos lucros e consumismo. Deste modo, falar sobre sustentabilidade nos remete diretamente à vida moderna e ao meio urbano, já que os problemas têm origem justamente nesta má administração dos recursos escassos presentes na natureza face aos desejos ilimitados dos seres humanos.
Se pensarmos no meio urbano, “a cidade pode ser entendida como um ecossistema, considerando o conceito em seu sentido amplo, uma unidade ambiental, dentro da qual todos os elementos e processos do ambiente são inter-relacionados e interdependentes, de modo que uma mudança em um deles resultará em alterações em outros componentes” (SILVA & VARGAS, 2010, p.1). Esta definição abrange o porquê do problema e a solução em uma só frase, isto porque, todos os dias no nosso cotidiano nós vemos ou vivenciamos, de alguma forma e com alguma intensidade, os problemas causados pela falta de sustentabilidade, como ar poluído, engarrafamentos, enchentes, pobreza, entre outros, mas por que apesar disso nós não nos engajamos em ações sustentáveis que possam melhorar nossa qualidade de vida e dos demais?
A ação sustentável depende de conscientização e integração
Um dos maiores problemas até o momento para a integração de todos os atores em torno de ações sustentáveis tem sido a falta de conscientização dos problemas complexos que nos cercam e na conscientização de que para que estes problemas sejam resolvidos precisa-se da participação de todos e todas, populações e empresas. No caso dos problemas ecológicos, uma das soluções seria uma educação sustentável, que como exposto por Leonardo Boff (2012), demonstrasse a relação de interdependência que há entre os seres vivos, que engloba todo o sistema e exige uma ação de preservação da biodiversidade global que beneficie a todos.
O que se busca desta forma é a superação do individualismo e a prática de uma perspectiva sistêmica, no qual compreende-se que mudanças de hábitos, mesmo que pequenos, geram impacto no todo, sendo a intenção contribuir com ações que nos levem a uma sustentabilidade planetária, pautada nos princípios de reciprocidade e mutualidade. Um exemplo de uma pequena ação que gera grande impacto é a coleta seletiva de lixo, que propõe a reutilização de recursos naturais, tanto orgânicos quanto recicláveis, e contribui para a redução da quantidade de lixo acumulada e favorece a geração de novos empregos.
No documento Cidades Sustentáveis – Subsídios à Elaboração da Agenda 21 Brasileira elaborado pelo ministério do meio ambiente no ano 2000, quatro estratégias de sustentabilidade urbana desenvolvidos para as cidades brasileiras, estas são:
- Aperfeiçoar a regulamentação do uso e ocupação do solo urbano e promover o ordenamento do território, contribuindo para a melhoria das condições de vida população, considerando a promoção da equidade, a eficiência e a qualidade ambiental;
- Promover o desenvolvimento institucional e o fortalecimento da capacidade de planejamento e gestão democrática da cidade, incorporando no processo a dimensão ambiental urbana e assegurando a efetiva participação da sociedade;
- Promover mudanças nos padrões de produção e consumo da cidade, reduzindo custos e desperdícios e fomentando o desenvolvimento de tecnologias urbanas sustentáveis;
- Desenvolver e estimular a aplicação de instrumentos econômicos no gerenciamento dos recursos naturais visando a sustentabilidade urbana.
De acordo com o Professor em Gestão Urbana e Habitacional da USP, Alex Kenya Abiko, em uma entrevista: “A ciência tem um papel fundamental na conscientização das instituições políticas brasileiras em relação aos problemas enfrentados nas cidades, seja elaborando diagnósticos precisos, gerando informações e propondo políticas que sejam eficientes, inclusivas e compatíveis com os recursos financeiros, tecnológicos e naturais existentes. Porém, no Brasil, segundo o especialista, a distância entre a academia e os gestores públicos é grande, o que não contribui para a adoção de novas tecnologias urbanas eficientes e de custo adequado”.
Quais os caminhos?
Como podemos imaginar, os caminhos rumo a um modelo de desenvolvimento urbano sustentável não é único, mas sim resultado de múltiplas ideias inovadoras de vários atores agindo em conjunto para o alcance de objetivos comuns e sistêmicos. Mas para isso acontecer, precisamos de uma sociedade mais participativa e democrática, com ações integradas entre governo, sociedade civil e empresas, a fim de transformar o mundo, como expresso por Fausto Nilo no TEDxFortaleza, em uma matriz de intercâmbio justa com equidade acessível e saudável.
Quer saber mais? Aqui estão as referências bibliográficas do texto e mais informações:
TORRESI, Susana I. Córdoba de; PARDINI, Vera L.; FERREIRA, Vitor F.. O que é sustentabilidade?. Quím. Nova, São Paulo , v. 33, n. 1, p. 1, 2010.
BOFF, Leonardo. Sustentabilidade: tentativa de definição. 2012. Disponível em: https://leonardoboff.wordpress.com/2012/01/15/sustentabilidade-tentativa-de-definicao/. Acesso em: 17 de dezembro de 18.
BOFF, Leonardo. Sustentabilidade: o que é – o que não é. Petrópolis, RJ: Vozes, 2012.
SILVA, C. F. R. & VARGAS, M. A. M.. Sustentabilidade Urbana: Raízes, Conceitos e Representações. Scientia Plena 6, 2010.
PORTOGENTE. Sustentabilidade urbana. 2017. Disponível em: https://portogente.com.br/noticias/dia-a-dia/93634-sustentabilidade-urbana. Acesso em: 15 de dezembro de 18.
MINISTÉRIO DO MEIO AMBIENTE. Cidades Sustentáveis – Subsídios à Elaboração da Agenda 21 Brasileira. Brasília, 2000.
MINISTÉRIO DO MEIO AMBIENTE. Sustentabilidade urbana: impactos do desenvolvimento econômico e suas consequências sobre o processo de urbanização em países emergentes. Brasília: MMA, 2015.
KAHN, Suzana. Reflexões sobre sustentabilidade urbana. Cienc. Cult., São Paulo , v. 67, n. 1, p. 4-5, Mar. 2015 .